20 minutos.


Peguei o ônibus com meu cello, destino certo... Com o pensamento viajante, passeava pelos compromissos da semana...
Músicas para treinar do louvor do próximo fim de semana - ok
Canto uma música, lembro outra... desligo e viajo nos planos e objetivos do ano
Academia, Circo, Dança... Sou pouco para tanto... Quero abraçar o mundo, quem dera pudesse.
De pé cuidando do instrumento que zelo para não cair na condução lotada, percebo que duas pessoas perto de mim se afastam...
Olho para frente e me assusto com o que vejo.
Sujo, fétido, calado.
Inicia-se um turbilhão de reações internas que foram reforçadas pela vida, vejo ao longe uma criança se escondendo nas pernas e braços da mãe... Medo.
Enquanto isso eu comigo permaneço no mesmo lugar e luto contra o condicionamento de repulsa que meu corpo e meus sentidos ansiavam sedentos em exteriorizar. Mas que minha mente e minhas emoções mais racionais buscavam por subversão, meus olhos queriam o humano e para além disso queria os humanos todos a volta.
Continuo sem nada fazer, permaneço no mesmo lugar e vejo muitos olhares de negação ao que estava na minha frente... enquanto faço o panorama a minha volta... meu olhos param nos olhos dele. Chuto 17 anos, possível transtorno mental, babando restos de comida aparentemente azeda, inchaços nas mãos, pés e rosto, meu coração bate e meu estômago comprime... meu entendimento dói. Sinto repulsa de mim.
Inicia-se uma tormenta, me culpo, me questiono e me nego a sentir contra a minha vontade consciente o que sentia, oro por ele, para que não perceba os olhares das pessoas e os meus. Passam-se 20 minutos desde que entrei no ônibus, chegou a hora de descer... olhando para o lugar onde pretendia saltar, percebo estar sendo observada e por dentro orava antes por ele e agora por mim... súplicas para ser mais humana, menos egoísta e despida de preconceitos e limitações, estigmas sociais.
Aperto o pare, ando em direção a porta arrasada por tudo que senti e pensei, me questionando a respeito de que tipo de humana, cristã e psicóloga sou e serei sendo assim... 
Desço e antes que as portas se fechem olho para trás... E recebo um aceno e o olhar mais humano e sincero que já recebi na vida.
Me perguntei se meus pensamentos foram ouvidos, constatei que sim... Dou um sorriso e retribuo o aceno agradecida pelo cuidado... Deles.




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